Ambiente da Saúde e Riscos Químicos
Marcelo Leandro Ribeiro
Existe uma incompreensão sobre o efetivo papel dos agentes químicos nas atividades da área da saúde. O primeiro equívoco é quanto à classificação errônea dos agentes químicos e dos riscos provenientes da sua manipulação. Costumam achar que gera risco somente aqueles produtos com elementos claramente estabelecidos, enquanto as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho classificam como risco químico toda uma gama de substâncias que possam ser inaladas pelo trabalhador ou absorvidas pela sua pele.
A inalação ou absorção pode ser dar com elementos na forma de poeiras, gases, névoas, fumos e vapores.
No segmento da saúde encontraremos agentes químicos nas diversas formas já citadas.
Poeira: São partículas sólidas geradas mecanicamente (por atrito, fricção ou outros meios) por ruptura de partículas maiores. As poeiras são classificadas em minerais (sílica, asbesto); vegetais (algodão, micro-filamentos do bagaço da cana-de-açúcar); alcalinas (calcário) e as poeiras incômodas que são aquelas que promovem interação com outros elementos do ambiente de trabalho majorando a sua nocividade.
Em clínicas e hospitais esses grupo de poeiras incômodas podem interagir com agentes biológicos. Micro-organismos patógenos podem se agregar à partículas de poeira e se aproveitar dessa interação para transitar por uma área maior de alcance transportados pelo vento ou pela varrição (proibida nos estabelecimentos de saúde exatamente por esse motivo).
Gases: É o estado natural de determinadas substâncias em condições usuais de pressão e temperatura. Podemos classificar nessa categoria o GLP, o hidrogênio e outros. É normal a utilização desses elementos na estrutura hospitalar.
Névoas: São micro-partículas líquidas resultantes da condensação de vapores ou da dispersão mecânica de líquidos, como a resultante do processo de pintura a revolver, ou o monóxido de carbono liberado pelos escapamentos dos carros.
Fumos: São partículas sólidas produzidas unicamente pela condensação de vapores metálicos, como os resíduos resultantes do processo de soldagem com ferro (que gera fumo a partir do óxido de zinco). A exposição a esse agente químico, que pode ser facilmente inalado, é altamente lesiva. Os setores de manutenção hospitalar estão sujeitos à absorção desses elementos em suas atividades rotineiras.
Vapores: São dispersões de moléculas no ar que podem condensar-se para formar elementos líquidos ou sólidos em condições normais de temperatura ou vapor. Exemplos: os vapores emanados da gasolina, de ampolas de medicamentos, de frascos com produtos químicos, etc.
Névoas, gases e vapores podem ser classificados em:
· Irritantes: causam irritação das vias aéreas superiores. Ex: ácido clorídrico, ácido sulfúrico, soda caustica, cloro, etc.
· Asfixiantes: provocam dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Ex: hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, acetileno, dióxido de carbono, monóxido de carbono, etc.
· Anestésicos: (a maioria solventes orgânicos). Geram ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos aos diversos órgãos, ao sistema formador de sangue (benzeno), etc. Ex: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc.
As vias de penetração dos agentes químicos no organismo humano são a cutânea (absorção pela pele – sobretudo mãos); digestiva (pela boca, geralmente absorção acidental) e pela via respiratória (nariz).
Determinantes de toxicidade: Para avaliar o potencial de toxicidade das substâncias químicas devemos levar em consideração uma série de fatores e elementos: concentração do agente; capacidade de dispersão no ambiente; índice respiratório (representa a quantidade de ar que pode ser inalada pelo trabalhador ou pela coletividade em determinado setor); sensibilidade individual; tempo de exposição e a toxicidade propriamente dita que é o potencial tóxico das substâncias no organismo.
Identificados os agentes que podem levar à eventual ou exponencial risco químico entra a fase de implementação de medidas de prevenção e controle. Nessa fase também é comum o erro de configuração do equipamento de proteção individual a ser entregue ao trabalhador.
As atividades de saúde estão recheadas de agentes químicos lesivos, que podem ser absorvidos ou inalados pelo organismo humano. Além de se proteger, o colaborador tem que se preocupar com a segurança da coletividade. São comuns doenças de trato respiratório em técnicas e auxiliares de enfermagem dada a exposição contínua à vapores oriundos de ampolas ou frascos de medicamentos; doenças ocupacionais em auxiliares de limpeza que trabalham com produtos fortes para higienização; pneumoconioses em trabalhadores de lavanderias. Isso tudo além da interação do agente químico com riscos físicos (radiação ionizante por exemplo), ou biológico.
A Norma Regulamentadora nº 32 determinou avanços na proteção ao trabalhador quando estabeleceu melhores mecanismos de identificação das fontes de exposição química na área da saúde.